Racismo no delivery
O Centro Brasileiro de Análise e Planejamento e a Amobitec revelam que 68% dos entregadores de plataformas de delivery no Brasil se identificam como negros. Em 2024, foram denunciados 148 casos de racismo no iFood, registrados durante entregas. Esses casos, acompanhados pela organização Black Sisters in Law, incluem relatos de injúria racial, agressões físicas e ameaças.
As discriminações representam 42% das denúncias feitas à Central de Apoio Jurídico e Psicológico da empresa, superando ocorrências de agressões físicas (25%) e desentendimentos relacionados a subir ou não em apartamentos (19%). Ao todo, mais de 13 mil casos de ameaças ou agressões foram registrados em 2024, evidenciando um ambiente de trabalho marcado por riscos e preconceitos.
Um caso emblemático ocorreu no Rio de Janeiro, quando o entregador Nilton Ramon de Oliveira, de 24 anos, foi baleado por um policial militar que se recusou a descer à portaria para buscar o pedido. Situações como essa demonstram como o racismo e a violência podem se manifestar de forma extrema no dia a dia.
O papel dos condomínios nesse cenário
Os condomínios representam um ponto crítico para o enfrentamento do racismo no delivery. Muitos conflitos entre entregadores e moradores ocorrem nesses espaços, especialmente em relação às regras sobre subir ou não aos apartamentos. Dados do iFood mostram que 16% das denúncias de ameaças ou agressões estão relacionadas a essa questão. Embora não exista uma legislação federal que determine até onde o entregador deve ir, a falta de padronização abre margem para desentendimentos e discriminações.
Condomínios podem e devem adotar medidas preventivas para minimizar essas situações. Isso inclui a definição clara de regras de acesso, treinamento de equipes de portaria para lidar com situações de conflito e campanhas educativas sobre respeito e igualdade. Síndicos e administradoras têm um papel fundamental nesse processo, promovendo a convivência harmoniosa entre moradores e profissionais de delivery.
Mobilização social
A campanha do Ministério da Igualdade Racial em parceria com a Amobitec busca conscientizar motoristas, entregadores e usuários de plataformas de mobilidade sobre o crime de racismo e suas consequências legais. A iniciativa utiliza plataformas como Uber e iFood para disseminar mensagens educativas, alcançando milhões de brasileiros e promovendo a inclusão e o respeito.
Essa ação é um exemplo de como iniciativas públicas e privadas podem se unir para combater o racismo em diferentes espaços. Nos condomínios, a adesão a campanhas como essa pode ser feita por meio de palestras, cartazes informativos e ações de sensibilização entre moradores e funcionários.
O racismo nos condomínios e no setor de delivery é um reflexo das desigualdades e preconceitos presentes na sociedade. A campanha do Ministério da Igualdade Racial e da Amobitec é um passo importante para mudar essa realidade, mas sua eficácia depende da mobilização de todos os envolvidos – moradores, síndicos, empresas e poder público.
Condomínios têm a oportunidade de se tornarem espaços de inclusão e respeito, promovendo a convivência harmoniosa e combatendo o racismo em todas as suas formas. Denunciar, educar e agir são passos fundamentais para transformar esses ambientes em locais verdadeiramente igualitários e seguros para todos.
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Autora:
Cleuzany Lott
Advogada especialista em direito condominial, cursando MBA Administração de Condomínios e Síndicos com Ênfase em Direito Condominial (Conasi), Diretora Nacional de Comunicação da Associação Nacional da Advocacia Condominial (ANACON) produtora de conteúdos e apresentadora do podcast Condominicando.